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Lidar com a vida e com a morte diariamente demanda uma entrega emocional muito grande.
Nesse sentido, as atividades inerentes ao ofício expõem os médicos a sofrimentos psíquicos diários que propiciam o desenvolvimento da Síndrome de Burnout. Este transtorno se caracteriza pela exaustão prolongada e a diminuição do interesse em trabalhar.
Na prática, são vários os estímulos que podem provocar ou agravar a síndrome em médicos.
Entre eles, a grande responsabilidade da atividade; os protocolos médicos; a empatia com a dor e a angústia dos pacientes; a impotência diante de evolução negativa de quadros clínicos de pacientes; a ineficiência de infraestrutura nas instituições em que atuam e as queixas trabalhistas (alta carga horária, salários insatisfatórios, exposição a riscos biológicos, químicos e físicos, entre outras).
“Burnout pode ser desencadeada pela presença de estresse emocional contínuo como, por exemplo, o cenário atual de desvalorização de sua atividade, cobranças por produtividade, hostilidade contra a classe médica pela população, dor, medo e angústia ao lidar com pacientes graves e, muitas vezes, questões judiciais por imperícia médica ou frustrações por resultados de procedimentos médicos”,
vice-presidente da Associação de Psiquiatria Cyro Martins, Euclides Gomes.
Relação médico-instituição-paciente
Além disso, afirma o psiquiatra, muitas vezes o binômio médico-paciente é transformado no trinômio médico-instituição-paciente, levando ao sofrimento por pressões de interesses antagônicos.
“De um lado, a instituição exigindo produtividade em termos quantitativos. Do outro lado, o paciente exigindo atenção e qualidade. Para piorar, atualmente o trabalho médico não é mais acompanhado de retorno salarial satisfatório”, completa o médico.
Pesquisa revela dados expressivos de Burnout entre médicos
Em pesquisa sobre o tema, realizada pelo Portal Medscape, quase a metade dos médicos consultados (44%) afirmaram sofrer de Burnout, sendo que 11% se definiram como “deprimidos” e 4% receberam o diagnóstico de depressão.
Sobre as causas, a maioria considera que excesso de burocracia (paperwork), passar muitas horas no trabalho e a digitalização da prática como os principais desencadeadores de estresse.
O estudo mostrou também um crescimento no último ano no número de médicos que têm pensamentos suicidas. Mesmo assim, apenas 13% afirmaram estar e tratamento, 64% nunca procuraram ajuda profissional.
Mais da metade dos médicos (64%) nunca procurou ajuda profissional e, dentre os motivos, estão: “não achar que os sintomas são graves o suficiente” e “achar que pode resolver sozinho o problema”.
Saúde mental de médicos brasileiros
Artigo publicado pelo BMC Medical Education, em 2017, apontou que 63% dos 1.648 voluntários da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo que responderam à pesquisa sobre avaliar a prevalência de ansiedade, depressão e sintomas de estresse em médicos apresentaram exaustão emocional e diagnóstico de Burnout.
Além disso, em 19% da amostra foram identificadas depressão, ansiedade em 16% e sintomas de estresse em 17,7%.